Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo
29/06/2021
- NOTÍCIAS DA COASC
O Banco Central do Brasil divulgou o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) referente à data-base de dezembro de 2020. Publicado anualmente, o panorama traz uma análise da evolução do segmento cooperativo nos últimos anos, com ênfase em 2020.
Segundo o Banco Central, “com crescimento acima da média dos demais segmentos, o cooperativismo de crédito continua se destacando como relevante provedor de crédito aos seus associados pessoas físicas (PF) e jurídicas (PJ), com ênfase nas micro, pequenas e médias empresas, fator fundamental para promover concorrência e para a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como um todo.”
Quantidade de cooperativas
O ano de 2020 finalizou com um total de 847 cooperativas singulares no Brasil, número menor do que as 872 instituições que haviam no final de 2019. Em 2020 nenhuma nova cooperativa entrou em funcionamento.
Haviam ainda em 2020 um total de 34 centrais e 4 confederações.
Segue a quantidade de cooperativas e centrais informadas no relatório:
Sistemas cooperativos de 3 níveis:
Sicoob: 16 centrais e 371 cooperativas singulares;
Sicredi: 5 centrais e 108 singulares;
Cresol: 4 centrais e 74 singulares;
Unicred: 4 centrais e 35 singulares;
Sistemas cooperativos de dois níveis: 5 centrais e 37 singulares;
Cooperativas singulares independentes: 222
O Sicoob foi o sistema que registrou a maior quantidade de incorporações (dez), seguido do Cresol (quatro). No Sicoob foram identificadas 16 cooperativas que optaram pela desvinculação do sistema, cooperativas estas que são preponderantemente de empregados ou servidores e em sua maioria de capital e empréstimo.
O único grupo de cooperativas que aumentou a quantidade foi o das independentes, que cresceu pelo segundo ano seguido, passando de 211 (dezembro de 2019) para 222 (dezembro de 2020). A principal razão para o crescimento nesse grupo são as desfiliações de cooperativas a uma central.
Pontos de atendimento
Em 2020 as cooperativas aumentaram sua rede de atendimento em 417 pontos. Destaca-se que o incremento observado ocorreu mesmo com o contexto de pandemia de 2020, e essa criação de postos pode beneficiar localidades que deixaram de ter agências de bancos.
Em dezembro de 2020, o cooperativismo de crédito estava presente em 2.788 municípios no país, o que corresponde a 50,1% do total de municípios. O total de pontos de atendimento, desconsiderando a agência sede das cooperativas, totalizava 6.474 em 2020, atingindo os 7.238 pontos de atendimento quando consideradas também as sedes das cooperativas.
Em todas as regiões, observou-se aumento no número de municípios atendidos, com destaque para a região Centro-Oeste, que alcançou 63,8% de municípios com pelo menos uma unidade de atendimento de cooperativa de crédito. A menor variação foi no Nordeste, região com o menor percentual de municípios atendidos (11,8%). A região Norte alcançou 27,6% dos municípios atendidos. Já a região Sul apresenta presença de uma cooperativa em 94,2% dos municípios e a região Sudeste em 61,9%.
Única instituição financeira em vários municípios
Além da expansão do atendimento presencial das cooperativas, a redução do número de agências dos bancos tem levado alguns municípios a contarem apenas com o atendimento presencial de cooperativas de crédito. Em 231 municípios do país as cooperativas são a única instituição financeira presente. Nos últimos anos, enquanto a quantidade de municípios com a presença do cooperativismo de crédito cresceu, a quantidade de municípios atendidos pelo segmento bancário reduziu.
Associados / Cooperados
A quantidade total de cooperados atingiu 11,9 milhões (das quais 10,2 milhões de pessoas físicas) em dezembro de 2020 (considerando CPFs e CNPJs distintos), crescendo cada vez mais a representatividade de associados PJ que já somam 1,7 milhão. O percentual da população associada a cooperativas de crédito aumentou em todas as regiões, alcançando 4,9% no país.
Crescimento nas pessoas jurídicas
O crescimento dos associados PJ é recorrente ao longo dos últimos anos e tem proporcionado uma mudança de perfil do quadro social, em especial pelo aumento da representatividade das PJ, que passou de 12,0% da base de cooperados em 2017 para 14,5% em 2020. Esse aumento de participação é mais evidente na carteira de crédito das singulares, na qual as PJ passaram a participar com 42,5% do total em 2020 (35,0% em 2017). Quanto ao porte das PJ associadas, cerca de 85% são classificadas como microempresas e empresas de pequeno porte de acordo com a Receita Federal.
Ativos, operações de crédito e captações
Os ativos totais do SNCC atingiram o valor de R$371,8 bilhões em dezembro de 2020, com taxa de crescimento superior ao do SFN (35,8% ao ano no SNCC e 25,5% no SFN).
As operações de crédito líquidas de provisão, ativo de maior relevância no SNCC, alcançaram R$213,2 bilhões. O estoque de captações do SNCC também aumentou a taxas maiores que o SFN, totalizando R$290,1 bilhões (42,4% ao ano no SNCC e 25,7% no SFN).
O SNCC se manteve como o segmento do SFN com maior expansão de crédito. A carteira de crédito das micro e pequenas empresas tem crescido de forma relevante nos últimos anos, e esse movimento foi intensificado em 2020, influenciado parcialmente pela maior necessidade de caixa a essas empresas, a fim de assegurar a continuidade dos seus negócios diante da perda de receitas em função da pandemia.
Na carteira de crédito a PF, o crescimento vem acelerando desde 2016 e alcançou 25,1% ao final de 2020. O crédito rural permanece sendo a principal modalidade, com 42,1% da carteira, refletindo o bom desempenho do setor de agronegócio. Já na carteira PJ, as operações de capital de giro representam 57,8% da carteira ativa.
As cooperativas de livre admissão, que representam 52% das cooperativas, são responsáveis por 87% dos ativos administrados pelo SNCC.
Participação de mercado
A participação de mercado das cooperativas manteve sua trajetória de crescimento em 2020. O SNCC respondia, em 2020, por 3,8% dos ativos totais, 5,1% da carteira de crédito e 6,3% dos depósitos.
Patrimônio Líquido
O patrimônio líquido (PL) das cooperativas de crédito singulares alcançou R$57,4 bilhões em dezembro de 2020, embora seu crescimento não tenha acompanhado a evolução dos ativos. O PL é composto pelo capital social (R$31,4 bilhões, 57,4% do PL), pelas reservas (R$22,8 bilhões, 39,8% do PL) e sobras acumuladas (R$3,2 bilhões, 5,6% do PL).
Análise dos associados que se desfiliaram
Nesta edição do Panorama do SNCC o Banco Central buscou reunir informações que apresentassem o perfil das pessoas que se desfiliaram de uma cooperativa de crédito no ano de 2019, permitindo que o SNCC reflita e tome ações para evitar tais desfiliações.
Em relação à idade, entre o grupo de ex-cooperados da amostra nota-se maior representatividade de indivíduos entre 20 e 39 anos em 2019, correspondendo a 46,5% das pessoas que deixaram o cooperativismo naquele ano. Quanto ao tempo de relacionamento, mais da metade dos ex-cooperados tinha até cinco anos de ligação com o segmento.
Na análise por região, a Sudeste se destaca, com 42,0% das desfiliações ao longo de 2019, enquanto essa mesma região contava com 29,8% do total de cooperados em dezembro de 2018, indicando maior propensão relativa de desfiliação nessa região.
Entre os desfiliados, 47,5% habitavam em municípios com mais de 100.000 habitantes, enquanto, na base completa de cooperados em dezembro de 2018, apenas 35,3% dos associados residiam em municípios com mais de 100.000 habitantes.
Ressalte-se que 77% da população de ex-cooperados do período analisado não tinham operações de crédito no SNCC, reforçando a hipótese de terem pouco relacionamento com as cooperativas. Do total de ex-cooperados, 43,1% tinham operações de crédito apenas fora do SNCC. O menor nível de relacionamento dos integrantes da amostra com o SNCC pode ser observado também pela menor participação desse segmento na carteira de crédito. O SNCC respondia, em dezembro de 2018, por apenas 6,6% do crédito contratado pelo grupo de ex-cooperados, enquanto, no total dos cooperados, a participação do SNCC alcançava 23,3%. Destaque para o fato de que 33% das operações de crédito que os ex-cooperados detinham fora do SNCC eram relacionadas ao crédito imobiliário e outros 17% em forma de crédito consignado.
Reforçando o indício de relacionamento de menor intensidade da amostra de ex-cooperados com o SNCC, verificou-se que mais de 90% já possuíam vínculos com outra IF em 2018, e cerca de 30% aumentaram a quantidade de vínculos de relacionamento com instituições financeiras integrantes de outros segmentos do SFN um ano depois.
Quanto às pessoas jurídicas que se desfiliaram, 42% delas tem relação com a paralisação ou encerramento das atividades da empresa.
Resultado líquido e sua destinação na assembleia
O resultado das cooperativas singulares em 2020, antes da remuneração anual do capital, foi de R$8,2 bilhões, o que representa um aumento de 11,6% em relação a 2019 (R$7,3 bilhões). Parte do resultado acima mencionado é destinado à remuneração do capital (R$765 milhões, redução de 39,9% em relação a 2019), às destinações legais e estatutárias (R$4,2 bilhões) e às sobras líquidas (R$3,2 bilhões), esta última com aumento de 21,1% em relação a 2019, em parte devido à redução da remuneração do capital. Das destinações legais e estatutárias, R$3,7 bilhões correspondem a reservas agregadas ao patrimônio líquido.
A participação das destinações legais e estatutárias tem aumentado nos últimos anos, chegando a representar 51,2% do resultado obtido em 2020.
Uniões e incorporações de cooperativas
Os processos de incorporação de cooperativas de crédito foram relevantes ao longo dos últimos anos no Brasil, sendo o principal fator de redução do número total de entidades do segmento. Nos últimos 5 anos foram 190 os processos de união que ocorreram, em média 38 por ano.
No contexto da incorporação, existem expectativas de ganhos de eficiência para a entidade resultante, melhor atendimento de demandas dos associados com aumento do escopo de produtos e serviços e ganho de escala. Com isso, os efeitos positivos tendem a ser passíveis de observação ao longo dos anos seguintes, seja por meio de benefícios nos serviços aos associados das cooperativas de crédito envolvidas no processo e às comunidades locais, de maior racionalização de custos operacionais da cooperativa e/ou de incentivos no crescimento de associados.
Em estudo publicado na edição do Panorama do SNCC de 2018, foi constatado que, nos anos seguintes às incorporações ocorridas nas cooperativas de crédito, a carteira de crédito das incorporadoras cresceu acima da média do SNCC.
O estudo aponta que as despesas administrativas frente ao ativo total das cooperativas cai de 7,9% (antes da incorporação) para 6,1% (3 anos após a incorporação).
As incorporações também se mostraram positivas para o ritmo de crescimento do quadro de associados das cooperativas, acima da média do SNCC.
Conclusões
Mesmo com todos os desafios decorrentes da pandemia de Covid-19, o cooperativismo de crédito continuou ganhando representatividade em relação aos demais setores do SFN. A quantidade de unidades de atendimento permaneceu em elevação, e, ainda assim, vários indicadores demonstraram ganhos de eficiência para o SNCC durante o ano de 2020. A quantidade de associados aumentou de forma relevante, especialmente entre as PJ.
A atuação do SNCC continua demonstrando sua importância no direcionamento de crédito para fomentar a atividade de pequenas e médias empresas bem como de produtores rurais, reforçando o importante papel desempenhado pelo cooperativismo no aumento da concorrência dentro do SFN.
Com as medidas já implementadas pelo BCB e pelo CMN no sentido de desenvolver o segmento das cooperativas de crédito, e outras medidas que estão em debate no congresso, como o Projeto de Lei 27/2020, que modificará a Lei Complementar 130 de 2009, espera-se que o segmento continue a ganhar relevância dentro do SFN. As cooperativas de livre admissão já são maioria, indicando um público-alvo crescente para o SNCC. Por outro lado, as cooperativas plenas devem manter o crescimento de 2020, o que significa uma maior oferta de produtos e serviços para os associados. Com isso, o cooperativismo de crédito deve aumentar sua importância no fomento à concorrência e representar uma alternativa de inclusão financeira de parcela significativa da população brasileira, assim como das empresas de menor porte.
Segundo o Banco Central, “com crescimento acima da média dos demais segmentos, o cooperativismo de crédito continua se destacando como relevante provedor de crédito aos seus associados pessoas físicas (PF) e jurídicas (PJ), com ênfase nas micro, pequenas e médias empresas, fator fundamental para promover concorrência e para a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como um todo.”
Quantidade de cooperativas
O ano de 2020 finalizou com um total de 847 cooperativas singulares no Brasil, número menor do que as 872 instituições que haviam no final de 2019. Em 2020 nenhuma nova cooperativa entrou em funcionamento.
Haviam ainda em 2020 um total de 34 centrais e 4 confederações.
Segue a quantidade de cooperativas e centrais informadas no relatório:
Sistemas cooperativos de 3 níveis:
Sicoob: 16 centrais e 371 cooperativas singulares;
Sicredi: 5 centrais e 108 singulares;
Cresol: 4 centrais e 74 singulares;
Unicred: 4 centrais e 35 singulares;
Sistemas cooperativos de dois níveis: 5 centrais e 37 singulares;
Cooperativas singulares independentes: 222
O Sicoob foi o sistema que registrou a maior quantidade de incorporações (dez), seguido do Cresol (quatro). No Sicoob foram identificadas 16 cooperativas que optaram pela desvinculação do sistema, cooperativas estas que são preponderantemente de empregados ou servidores e em sua maioria de capital e empréstimo.
O único grupo de cooperativas que aumentou a quantidade foi o das independentes, que cresceu pelo segundo ano seguido, passando de 211 (dezembro de 2019) para 222 (dezembro de 2020). A principal razão para o crescimento nesse grupo são as desfiliações de cooperativas a uma central.
Pontos de atendimento
Em 2020 as cooperativas aumentaram sua rede de atendimento em 417 pontos. Destaca-se que o incremento observado ocorreu mesmo com o contexto de pandemia de 2020, e essa criação de postos pode beneficiar localidades que deixaram de ter agências de bancos.
Em dezembro de 2020, o cooperativismo de crédito estava presente em 2.788 municípios no país, o que corresponde a 50,1% do total de municípios. O total de pontos de atendimento, desconsiderando a agência sede das cooperativas, totalizava 6.474 em 2020, atingindo os 7.238 pontos de atendimento quando consideradas também as sedes das cooperativas.
Em todas as regiões, observou-se aumento no número de municípios atendidos, com destaque para a região Centro-Oeste, que alcançou 63,8% de municípios com pelo menos uma unidade de atendimento de cooperativa de crédito. A menor variação foi no Nordeste, região com o menor percentual de municípios atendidos (11,8%). A região Norte alcançou 27,6% dos municípios atendidos. Já a região Sul apresenta presença de uma cooperativa em 94,2% dos municípios e a região Sudeste em 61,9%.
Única instituição financeira em vários municípios
Além da expansão do atendimento presencial das cooperativas, a redução do número de agências dos bancos tem levado alguns municípios a contarem apenas com o atendimento presencial de cooperativas de crédito. Em 231 municípios do país as cooperativas são a única instituição financeira presente. Nos últimos anos, enquanto a quantidade de municípios com a presença do cooperativismo de crédito cresceu, a quantidade de municípios atendidos pelo segmento bancário reduziu.
Associados / Cooperados
A quantidade total de cooperados atingiu 11,9 milhões (das quais 10,2 milhões de pessoas físicas) em dezembro de 2020 (considerando CPFs e CNPJs distintos), crescendo cada vez mais a representatividade de associados PJ que já somam 1,7 milhão. O percentual da população associada a cooperativas de crédito aumentou em todas as regiões, alcançando 4,9% no país.
Crescimento nas pessoas jurídicas
O crescimento dos associados PJ é recorrente ao longo dos últimos anos e tem proporcionado uma mudança de perfil do quadro social, em especial pelo aumento da representatividade das PJ, que passou de 12,0% da base de cooperados em 2017 para 14,5% em 2020. Esse aumento de participação é mais evidente na carteira de crédito das singulares, na qual as PJ passaram a participar com 42,5% do total em 2020 (35,0% em 2017). Quanto ao porte das PJ associadas, cerca de 85% são classificadas como microempresas e empresas de pequeno porte de acordo com a Receita Federal.
Ativos, operações de crédito e captações
Os ativos totais do SNCC atingiram o valor de R$371,8 bilhões em dezembro de 2020, com taxa de crescimento superior ao do SFN (35,8% ao ano no SNCC e 25,5% no SFN).
As operações de crédito líquidas de provisão, ativo de maior relevância no SNCC, alcançaram R$213,2 bilhões. O estoque de captações do SNCC também aumentou a taxas maiores que o SFN, totalizando R$290,1 bilhões (42,4% ao ano no SNCC e 25,7% no SFN).
O SNCC se manteve como o segmento do SFN com maior expansão de crédito. A carteira de crédito das micro e pequenas empresas tem crescido de forma relevante nos últimos anos, e esse movimento foi intensificado em 2020, influenciado parcialmente pela maior necessidade de caixa a essas empresas, a fim de assegurar a continuidade dos seus negócios diante da perda de receitas em função da pandemia.
Na carteira de crédito a PF, o crescimento vem acelerando desde 2016 e alcançou 25,1% ao final de 2020. O crédito rural permanece sendo a principal modalidade, com 42,1% da carteira, refletindo o bom desempenho do setor de agronegócio. Já na carteira PJ, as operações de capital de giro representam 57,8% da carteira ativa.
As cooperativas de livre admissão, que representam 52% das cooperativas, são responsáveis por 87% dos ativos administrados pelo SNCC.
Participação de mercado
A participação de mercado das cooperativas manteve sua trajetória de crescimento em 2020. O SNCC respondia, em 2020, por 3,8% dos ativos totais, 5,1% da carteira de crédito e 6,3% dos depósitos.
Patrimônio Líquido
O patrimônio líquido (PL) das cooperativas de crédito singulares alcançou R$57,4 bilhões em dezembro de 2020, embora seu crescimento não tenha acompanhado a evolução dos ativos. O PL é composto pelo capital social (R$31,4 bilhões, 57,4% do PL), pelas reservas (R$22,8 bilhões, 39,8% do PL) e sobras acumuladas (R$3,2 bilhões, 5,6% do PL).
Análise dos associados que se desfiliaram
Nesta edição do Panorama do SNCC o Banco Central buscou reunir informações que apresentassem o perfil das pessoas que se desfiliaram de uma cooperativa de crédito no ano de 2019, permitindo que o SNCC reflita e tome ações para evitar tais desfiliações.
Em relação à idade, entre o grupo de ex-cooperados da amostra nota-se maior representatividade de indivíduos entre 20 e 39 anos em 2019, correspondendo a 46,5% das pessoas que deixaram o cooperativismo naquele ano. Quanto ao tempo de relacionamento, mais da metade dos ex-cooperados tinha até cinco anos de ligação com o segmento.
Na análise por região, a Sudeste se destaca, com 42,0% das desfiliações ao longo de 2019, enquanto essa mesma região contava com 29,8% do total de cooperados em dezembro de 2018, indicando maior propensão relativa de desfiliação nessa região.
Entre os desfiliados, 47,5% habitavam em municípios com mais de 100.000 habitantes, enquanto, na base completa de cooperados em dezembro de 2018, apenas 35,3% dos associados residiam em municípios com mais de 100.000 habitantes.
Ressalte-se que 77% da população de ex-cooperados do período analisado não tinham operações de crédito no SNCC, reforçando a hipótese de terem pouco relacionamento com as cooperativas. Do total de ex-cooperados, 43,1% tinham operações de crédito apenas fora do SNCC. O menor nível de relacionamento dos integrantes da amostra com o SNCC pode ser observado também pela menor participação desse segmento na carteira de crédito. O SNCC respondia, em dezembro de 2018, por apenas 6,6% do crédito contratado pelo grupo de ex-cooperados, enquanto, no total dos cooperados, a participação do SNCC alcançava 23,3%. Destaque para o fato de que 33% das operações de crédito que os ex-cooperados detinham fora do SNCC eram relacionadas ao crédito imobiliário e outros 17% em forma de crédito consignado.
Reforçando o indício de relacionamento de menor intensidade da amostra de ex-cooperados com o SNCC, verificou-se que mais de 90% já possuíam vínculos com outra IF em 2018, e cerca de 30% aumentaram a quantidade de vínculos de relacionamento com instituições financeiras integrantes de outros segmentos do SFN um ano depois.
Quanto às pessoas jurídicas que se desfiliaram, 42% delas tem relação com a paralisação ou encerramento das atividades da empresa.
Resultado líquido e sua destinação na assembleia
O resultado das cooperativas singulares em 2020, antes da remuneração anual do capital, foi de R$8,2 bilhões, o que representa um aumento de 11,6% em relação a 2019 (R$7,3 bilhões). Parte do resultado acima mencionado é destinado à remuneração do capital (R$765 milhões, redução de 39,9% em relação a 2019), às destinações legais e estatutárias (R$4,2 bilhões) e às sobras líquidas (R$3,2 bilhões), esta última com aumento de 21,1% em relação a 2019, em parte devido à redução da remuneração do capital. Das destinações legais e estatutárias, R$3,7 bilhões correspondem a reservas agregadas ao patrimônio líquido.
A participação das destinações legais e estatutárias tem aumentado nos últimos anos, chegando a representar 51,2% do resultado obtido em 2020.
Uniões e incorporações de cooperativas
Os processos de incorporação de cooperativas de crédito foram relevantes ao longo dos últimos anos no Brasil, sendo o principal fator de redução do número total de entidades do segmento. Nos últimos 5 anos foram 190 os processos de união que ocorreram, em média 38 por ano.
No contexto da incorporação, existem expectativas de ganhos de eficiência para a entidade resultante, melhor atendimento de demandas dos associados com aumento do escopo de produtos e serviços e ganho de escala. Com isso, os efeitos positivos tendem a ser passíveis de observação ao longo dos anos seguintes, seja por meio de benefícios nos serviços aos associados das cooperativas de crédito envolvidas no processo e às comunidades locais, de maior racionalização de custos operacionais da cooperativa e/ou de incentivos no crescimento de associados.
Em estudo publicado na edição do Panorama do SNCC de 2018, foi constatado que, nos anos seguintes às incorporações ocorridas nas cooperativas de crédito, a carteira de crédito das incorporadoras cresceu acima da média do SNCC.
O estudo aponta que as despesas administrativas frente ao ativo total das cooperativas cai de 7,9% (antes da incorporação) para 6,1% (3 anos após a incorporação).
As incorporações também se mostraram positivas para o ritmo de crescimento do quadro de associados das cooperativas, acima da média do SNCC.
Conclusões
Mesmo com todos os desafios decorrentes da pandemia de Covid-19, o cooperativismo de crédito continuou ganhando representatividade em relação aos demais setores do SFN. A quantidade de unidades de atendimento permaneceu em elevação, e, ainda assim, vários indicadores demonstraram ganhos de eficiência para o SNCC durante o ano de 2020. A quantidade de associados aumentou de forma relevante, especialmente entre as PJ.
A atuação do SNCC continua demonstrando sua importância no direcionamento de crédito para fomentar a atividade de pequenas e médias empresas bem como de produtores rurais, reforçando o importante papel desempenhado pelo cooperativismo no aumento da concorrência dentro do SFN.
Com as medidas já implementadas pelo BCB e pelo CMN no sentido de desenvolver o segmento das cooperativas de crédito, e outras medidas que estão em debate no congresso, como o Projeto de Lei 27/2020, que modificará a Lei Complementar 130 de 2009, espera-se que o segmento continue a ganhar relevância dentro do SFN. As cooperativas de livre admissão já são maioria, indicando um público-alvo crescente para o SNCC. Por outro lado, as cooperativas plenas devem manter o crescimento de 2020, o que significa uma maior oferta de produtos e serviços para os associados. Com isso, o cooperativismo de crédito deve aumentar sua importância no fomento à concorrência e representar uma alternativa de inclusão financeira de parcela significativa da população brasileira, assim como das empresas de menor porte.