Como o aumento no custo da energia impacta comércio e agronegócio em SC
06/09/2021
- NOTÍCIAS DA COASC
O aumento no preço da energia elétrica, inclusive com a criação de uma nova bandeira na conta de luz, batizada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de bandeira de escassez hídrica, preocupa os setores do comércio e do agronegócio em Santa Catarina.
O Brasil vive a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, encarecendo o preço da conta de luz. Dessa forma, a taxa extra da nova bandeira será de R$ 14,20 para cada 100 kilowatt-hora (KWh) consumidos e já entra em vigor a partir do dia 1º setembro, permanecendo vigente até abril do ano que vem.
O novo patamar representa um aumento de R$ 4,71, cerca de 50%, em relação à bandeira vermelha patamar 2, até então o maior patamar, no valor R$ 9,49 por 100 kWh.
Na opinião do Assessor Institucional da FCDL/SC (Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas de Santa Catarina), João Carlos Dela Roca, o aumento da energia é mais uma forma de impacto no comércio, que ainda sofre sequelas dos efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“Esse reajuste vem em um momento ainda muito difícil para o setor. É mais um baque, mas somos obrigados a absorver e buscar alternativas fazendo redução de energia para que o impacto não seja tão forte também no consumidor, uma vez que se forma um ‘efeito cascata’”, afirma Dela Roca.
Na opinião do especialista, o setor busca maneiras de absorver os impactos, uma vez que o aumento da conta de luz impacta consequentemente no preço do produto final, que deve ser mais alto já saindo da indústria com reajuste, aliado ao menor poder de compra do consumidor.
“O consumidor final, com menos dinheiro no bolso, começa a pensar em economia e vai só para o que é necessário”, afirma o especialista.
“O Dia das Crianças será o grande sinalizador para o Natal. Ali sim iremos ter uma ideia de como serão as vendas do fim de ano”, completa.
Intenção de compra das famílias diminui
Na opinião do economista da Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina), Alison Fiuza, o aumento da inflação vem impactando a renda e o poder de compra do consumidor, em especial, itens que estão no dia a dia como é o caso da energia elétrica.
“Alguns indicadores já vêm mostrando este impacto. Por exemplo, a intenção de consumo atual das famílias vem diminuindo, chegando a mínima histórica agora no mês de agosto, aonde até 90% dos consumidores estão dizendo que estão comprando menos. E também a renda real dos trabalhadores catarinenses que fechou o segundo trimestre do ano em uma maneira negativa comparada ao ano passado”, explica o especialista.
Para minimizar o impacto do poder de compra, 76% das famílias endividadas de Santa Catarina estão buscando renda extra. Especialmente o cartão de crédito.
“Isso pode ser dentro deste momento uma alternativa, mas tem que ter muito cuidado, porque o cartão de crédito tem um dos juros mais altos do mercado, e quando não há o pagamento, isso faz com que as famílias se tornem inadimplentes, diminuindo o consumo atual e futuro”, alerta.
Agronegócio também sente os impactos
O uso de energia é essencial no agronegócio, que encontra nas tecnologias uma elevação de produtividade e de lucratividade. Com o crescimento das tarifas sobre a conta de luz, produtores vem precisando se adaptar para sofrer menos o impacto no orçamento.
O relatório “Energy, Agriculture and Climate Change”, feito pela FAO (Organização das Nações Unidas pela Alimentação e Agricultura), revelou que o agronegócio é o responsável pelo consumo de cerca de 30% da energia mundial. A tendência, no entanto, é de aumento desse número, uma vez que a perspectiva é de crescimento populacional e, portanto, de maior produção de alimentos.
Tendo em vista esse cenário, o aumento da conta de luz e outros problemas do abastecimento convencional, como a crise hídrica vivida atualmente no país, pode somar custos aos produtores, diminuir a quantidade de produtos disponíveis e gerar alta ainda maior no preço dos alimentos.
“O impacto desse aumento é muito significativo no custo do produtor rural e ele não consegue transferir para integradora, para a grande indústria, porque ele recebe sobre a produção que o lote teve, sobre os resultados que o lote teve”, explica o vice-presidente da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri.
“Outro exemplo: hortigranjeiros, muitos deles utilizam a energia para irrigação ou para a própria estufa, nesse período que teve de frio, e isso algumas vezes eles conseguem repassar quando levam seu produto ao Ceasa, quem paga essa conta é o consumidor”, pontua.
Ou seja, no momento em que o consumidor for encontrar o produto no supermercado, o preço, naturalmente, estará mais alto que o normal.
“É um ano muito difícil não só para o consumidor, mas mais ainda para o produtor e muitos deles não estão conseguindo fechar uma conta de custo com a venda do produto, por causa disso, muitos deles estão parando com algumas atividades”, explica Barbieri.
“Principalmente nessa questão de proteína animal, tem muita gente desistindo da atividade porque os custos são incompatíveis com a realidade de venda, e estão trabalhando no vermelho. Isso faz com que você não consiga trazer de volta os preços finais porque quando puder trazer de volta vai faltar produto porque não tem o produtor”, completa.
Possível solução
Para Barbieri, não é possível enxergar nenhuma solução para o problema no momento. “Ano passado o governo federal gastou muito dinheiro para repassar a população brasileira através de programa sociais que alimentou praticamente um terço da população, então a agricultura foi muito bem”, explica.
“Havia uma demanda muito forte de alimentos por conta desse dinheiro público que foi injetado. Neste ano as coisas se inverteram, os custos aumentaram significativamente, não se vê a curto prazo nenhuma ação que possa trazer mais investimento”, completa.
O profissional finaliza afirmando que teme o futuro e que não vê possibilidade de melhora num cenário menor do que um ano.
“Não adianta dizer que o produto está muito caro porque o custo do produtor é mais caro ainda. Está todo mundo voltado a exportação, porque é remunerado em dólar, mas aqueles que produzem apenas para o mercado interno, está ficando cada vez mais difícil, porque os custos finais estão muito menores do que o preço que você vende do custo de produção”, finaliza.
O Brasil vive a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, encarecendo o preço da conta de luz. Dessa forma, a taxa extra da nova bandeira será de R$ 14,20 para cada 100 kilowatt-hora (KWh) consumidos e já entra em vigor a partir do dia 1º setembro, permanecendo vigente até abril do ano que vem.
O novo patamar representa um aumento de R$ 4,71, cerca de 50%, em relação à bandeira vermelha patamar 2, até então o maior patamar, no valor R$ 9,49 por 100 kWh.
Na opinião do Assessor Institucional da FCDL/SC (Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas de Santa Catarina), João Carlos Dela Roca, o aumento da energia é mais uma forma de impacto no comércio, que ainda sofre sequelas dos efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“Esse reajuste vem em um momento ainda muito difícil para o setor. É mais um baque, mas somos obrigados a absorver e buscar alternativas fazendo redução de energia para que o impacto não seja tão forte também no consumidor, uma vez que se forma um ‘efeito cascata’”, afirma Dela Roca.
Na opinião do especialista, o setor busca maneiras de absorver os impactos, uma vez que o aumento da conta de luz impacta consequentemente no preço do produto final, que deve ser mais alto já saindo da indústria com reajuste, aliado ao menor poder de compra do consumidor.
“O consumidor final, com menos dinheiro no bolso, começa a pensar em economia e vai só para o que é necessário”, afirma o especialista.
“O Dia das Crianças será o grande sinalizador para o Natal. Ali sim iremos ter uma ideia de como serão as vendas do fim de ano”, completa.
Intenção de compra das famílias diminui
Na opinião do economista da Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina), Alison Fiuza, o aumento da inflação vem impactando a renda e o poder de compra do consumidor, em especial, itens que estão no dia a dia como é o caso da energia elétrica.
“Alguns indicadores já vêm mostrando este impacto. Por exemplo, a intenção de consumo atual das famílias vem diminuindo, chegando a mínima histórica agora no mês de agosto, aonde até 90% dos consumidores estão dizendo que estão comprando menos. E também a renda real dos trabalhadores catarinenses que fechou o segundo trimestre do ano em uma maneira negativa comparada ao ano passado”, explica o especialista.
Para minimizar o impacto do poder de compra, 76% das famílias endividadas de Santa Catarina estão buscando renda extra. Especialmente o cartão de crédito.
“Isso pode ser dentro deste momento uma alternativa, mas tem que ter muito cuidado, porque o cartão de crédito tem um dos juros mais altos do mercado, e quando não há o pagamento, isso faz com que as famílias se tornem inadimplentes, diminuindo o consumo atual e futuro”, alerta.
Agronegócio também sente os impactos
O uso de energia é essencial no agronegócio, que encontra nas tecnologias uma elevação de produtividade e de lucratividade. Com o crescimento das tarifas sobre a conta de luz, produtores vem precisando se adaptar para sofrer menos o impacto no orçamento.
O relatório “Energy, Agriculture and Climate Change”, feito pela FAO (Organização das Nações Unidas pela Alimentação e Agricultura), revelou que o agronegócio é o responsável pelo consumo de cerca de 30% da energia mundial. A tendência, no entanto, é de aumento desse número, uma vez que a perspectiva é de crescimento populacional e, portanto, de maior produção de alimentos.
Tendo em vista esse cenário, o aumento da conta de luz e outros problemas do abastecimento convencional, como a crise hídrica vivida atualmente no país, pode somar custos aos produtores, diminuir a quantidade de produtos disponíveis e gerar alta ainda maior no preço dos alimentos.
“O impacto desse aumento é muito significativo no custo do produtor rural e ele não consegue transferir para integradora, para a grande indústria, porque ele recebe sobre a produção que o lote teve, sobre os resultados que o lote teve”, explica o vice-presidente da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri.
“Outro exemplo: hortigranjeiros, muitos deles utilizam a energia para irrigação ou para a própria estufa, nesse período que teve de frio, e isso algumas vezes eles conseguem repassar quando levam seu produto ao Ceasa, quem paga essa conta é o consumidor”, pontua.
Ou seja, no momento em que o consumidor for encontrar o produto no supermercado, o preço, naturalmente, estará mais alto que o normal.
“É um ano muito difícil não só para o consumidor, mas mais ainda para o produtor e muitos deles não estão conseguindo fechar uma conta de custo com a venda do produto, por causa disso, muitos deles estão parando com algumas atividades”, explica Barbieri.
“Principalmente nessa questão de proteína animal, tem muita gente desistindo da atividade porque os custos são incompatíveis com a realidade de venda, e estão trabalhando no vermelho. Isso faz com que você não consiga trazer de volta os preços finais porque quando puder trazer de volta vai faltar produto porque não tem o produtor”, completa.
Possível solução
Para Barbieri, não é possível enxergar nenhuma solução para o problema no momento. “Ano passado o governo federal gastou muito dinheiro para repassar a população brasileira através de programa sociais que alimentou praticamente um terço da população, então a agricultura foi muito bem”, explica.
“Havia uma demanda muito forte de alimentos por conta desse dinheiro público que foi injetado. Neste ano as coisas se inverteram, os custos aumentaram significativamente, não se vê a curto prazo nenhuma ação que possa trazer mais investimento”, completa.
O profissional finaliza afirmando que teme o futuro e que não vê possibilidade de melhora num cenário menor do que um ano.
“Não adianta dizer que o produto está muito caro porque o custo do produtor é mais caro ainda. Está todo mundo voltado a exportação, porque é remunerado em dólar, mas aqueles que produzem apenas para o mercado interno, está ficando cada vez mais difícil, porque os custos finais estão muito menores do que o preço que você vende do custo de produção”, finaliza.